Quando eu ia tirar dúvidas com o professor, eu percebia que ele não me ouvia. Ele não procurava entender a minha dificuldade. Ele dizia, sempre muito polido, que já tinha falado sobre aquilo em aula. Muitas vezes. E que era só estudar para tirar uma boa nota. Peraí!!!! Aluno como tábula rasa? Ainda tem gente que pensa assim??? Então, basta ao professor recitar as 173 páginas do livro texto que imediatamente fórmulas e equações serão marcadas de forma indelével na mente do aluno?
O professor que é mais comprometido com a aprendizagem do que com o conteúdo age de forma diferente. Eu sei porque tenho um professor assim. Ele é capaz de chamar cada aluno pelo nome. Ele respeita o ritmo, o gosto, o talento do seu aluno como ponto de partida. Ele sabe que o ponto de chegada é uma decisão coletiva, que currículo é coisa séria, que enxergar o aluno não significa moldar o ensino às idiossincrasias de cada um. Ele é capaz de vislumbrar horizontes cada vez mais amplos para seus alunos, porque a aprendizagem pode ser um encontro com a inquietude e com o desejo de saber mais.
Nunca um professor ruim foi tão bom quanto esse que me deu zero. Tem gente que é naturalmente chata. Tem gente que é naturalmente confusa. Tem gente que é mal intencionada. Esse professor não era nada disso. E mais, ele dominava bem o conteúdo e parecia amar o conhecimento. Ele era pontual, nunca faltava. Estava sempre lá na sua salinha, pronto para tirar dúvidas dos alunos que o procurassem. Mas esse professor me parece equivocado. Melhor ainda, anacrônico. Ele elaborava provas em que o conteúdo era abordado com um nível de complexidade muito maior do que aquele trabalhado em aula. Acho que, com isso, com isso, ele queria medir a inteligência do aluno, a sua capacidade para resolver situações novas. Só que uma prova é uma situação de tensão, uma péssima oportunidade para se fazer um teste de inteligência. Se é que existe teste para isso. Se é que essa informação é relevante. Ou conclusiva, num mundo com tantos estímulos habitado por seres com uma inteligência tão plástica como a nossa.
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