Resumo do texto escrito por Mirlene Ferreira Macedo Damázio e Josimário de Paulo Ferreira: "Educação Escolar de Pessoas com Surdez - Atendimento Educacional Especializado em Construção"
É preciso deslocar o foco da discussão sobre a educação de pessoas surdas do embate entre oralistas e gestualistas. O importanteé que a escola estimule a construção, pela pessoa com surdez (PS), de um campo de comunicação e interação social amplo. As línguas devem ter um papel de destaque, mas não podem ser o centro do processo pedagógico.
A nova política de educação no Brasil propõe um movimento inclusão de todos os alunos. Na prática, muitas ações precisam ser pensadas/realizadas para que a educação das pessoas surdas seja de fato inclusiva.
A noção de Cultura Surda é considerada intrinsecamente segregadora:
sob a força do que se constitui como paradigma inclusivo, não legitimamos os estudos e trabalhos que têm defendido os marcadores identitários dos surdos: cultura surda, identidade surda, línguas surdas e sujeito surdo, tendo por outro lado, os seus oponentes: os ouvintes dominadores. Acreditamos na nova Política Nacional de Educação Especial, numa perspectiva inclusiva, e não coadunamos com essas concepções que dicotomizam as pessoas com ou sem deficiência, pois, antes de tudo, por mais diferentes que nós humanos sejamos, sempre nos igualamos na convivência, na experiência, nas relações, enfim, nas interações, por sermos humanos (DAMÁZIO e LOPES, 2010, p. 47 e 48).
A PS não deve ser vista como deficiente, mas como um ser de consciência, pensamento e linguagem. Ela pode ser interpretada à luz do pensamento pós-moderno como ser humano descentrado, com muitas potencialidades, diversas formas de percepção neurossensorial. Ela é capaz de assumir diferentes posições e identidades ao adquirir e produzir conhecimento.
A abordagem bilingue do AEE, sugerida pela legislação, é compatível com perspectiva pós-moderna multicultural. Segundo esta abordagem, a Libras e a Língua Portuguesa , sem distinção hierárquica, são tomadas em seus componentes histórico-cultural, textual, interacional e pragmático, além de seus aspectos formais (fonologia, morfologia, sintaxe, léxico e semântica).
No AEE PS o conhecimento não deve ser visto de modo linear, hierarquizado e fragmentado; ele deve ser apresentado como uma teia de relações por uma prática pedagógica alicerçada nas representações sociais e nos legados culturais e científicos da humanidade (epistemes). Fundamentando esta prática pedagógica está a Pedagogia Contextual Relacional, que enfatiza a importância de desenvolver no ser humano todos os aspectos possíveis, estabelecendo um movimento relacional sadio entre o ser humano e o meio ambiente.
Uma metodologia adequada ao AEE PS é a metodologia vivencial, que leva o aluno a aprender a aprender. Seus pressupostos são: o aluno com surdez constrói ideias próprias sobre o mundo e, quando essa ideias entram em conflito com esquemas anteriores, questiona esses esquemas para refutar ou confirmar suas novas ideias. Ao descobrir sobre o saber investigado, tem um "ato conseguido" que precisa ser repetido para construir a aprendizagem significativa.
Os contextos que serão trabalhados no AEE são escolhidos de acordo com a significância, a representatividade conceitual e a obrigatoriedade do programa curricular oficial. Para planejar os contextos, o professor pesquisa e elabora a tecitura epistêmica do assunto em quadro sinóptico, envolvendo: contexto identitário do ambiente de aprendizagem, conceitualizações deste contexto, áreas dos saberes científicos, conteúdos curriculares do contexto, significantes e significados do contexto e habilidades esperadasvdo aluno.
O plano de AEE PS envolve o AEE em Libras, o AEE em Língua Portuguesa Escrita (com professor preferencialmente formado em Letras) e o AEE para o ensino de Libras (com instrutores preferencialmente surdos).
Nenhum comentário:
Postar um comentário